30 de nov. de 2011

Mexendo o caldeirão: dos nossos antepassados até nós

Pesquisa e texto realizados por Stella Bittar

"En ce qui concerne les correspondances des plantes et des astres, il faut savoir que l´univers est comme un grand corps où tout se correspond. Il y a un lien invisible qui relie toute chose, une empreinte du monde d´en-haut sur le monde d´en-bas" Le Livre du Secret des Choses

Da Botânica antiga às crenças do Herbalismo oculto, passando pela medicina popular caseira chegando à praticidade da Aromaterapia moderna. Eis aqui nossa última Postagem do ano, propondo aos adeptos dos cuidados naturais receitas e histórias curiosas que enriquecerão seu conhecimento sobre o uso das ervas. 

Algumas receitas antigas são utilizadas até hoje e são fáceis e simples de realizar em casa; outras aparecerão para despertar curiosidade e nos fazer viajar no tempo, para descobrirmos o valor que nossos ancestrais atribuíam  às ervas, deixando-lhes marca energética, simbologias, até os dias atuais...
Para finalizar, descreverei algumas Sinergias, práticas e “modernas”, com  óleos essenciais, para nosso dia-a-dia... Boa Alquimia!


Tisana de Zimbro (Alpes Franceses séc XVIII): "Ferva 4 bagos de Zimbro (Junipero communis) em 1 xícara de água. Deixe em infusão por 10 minutos. Tome 1 xícara por dia adoçada com mel como depurativo dos rins ou do fígado e nos casos de reumatismos".
Paracelso (séc XVI) recomendava que jogassem as bagas do Zimbro sobre brasas vivas para purificar o quarto dos doentes. Na Botânica oculta ramos do arbusto afugentavam cobras e queimados como incensos, “purificavam o ambiente dos miasmas e afastava as entidades maléficas do plano astral...”

Vinagre dos 4 Ladrões (Sul da França séc XVIII): Dizem que os ladrões conseguiram sair imunes  durante a terrível epidemia de Peste pois utilizavam um “talismã” que os deixavam invulneráveis: “Em 2  ½ litros de Vinagre de vinho coloque 40 g de absinto,  alecrim, sálvia, arruda, hortelã, lavanda e 5 g de canela, noz-moscada, cravo, alho. Deixe descansar por 10 dias e filtre. Utilize sempre que  visitar enfermos nos hospitais, em dias de nevoeiro, ou em caso de epidemias – friccione o rosto e as mãos e coloque algumas gotas em um lenço – assim você evitará as chateações...”

Loção da Felicidade (Alemanha séc XII)“Amasse 100 g de flores de Malva e 200 g de flores de Sálvia. Misture 20cl de Azeite ou de Vinagre de Cidra. Deixe macerar. Filtre. Massageie a testa e as têmporas com esta loção. Nos casos agudos faça compressas por 3 dias. O sumo da Malva dissolve a melancolia, o da Sálvia a seca, o Azeite ajuda a cabeça cansada enquanto que o vinagre arranca a acidez da melancolia.”

Indo mais longe, a tão especial Mirra, associada às adorações divinas na tradição judaica, grega e romana, também utilizada nas festividades muito humanas, como Aroma do amor: “Espargi Mirra sobre minha cama e também Agáloco e Canela, venha beber do profundo amor até o amanhecer” (Livro dos Provérbios).

Ela é importante também na Botânica oculta, por exemplo, na fabricação do Óleo de Deméter, que leva "3 gotas de Mirra, 2 de Vetiver, 1 de perfume de Musgo de Carvalho" e é utilizado como ungüento para nos conectar à Terra, para as “safras frutíferas”, dinheiro e prosperidade. Nos rituais espirituais ou na meditação, aparecem nas "Tinturas  sagradas" usadas via externa - Mirra, Olíbano e Benjoim - reduzidos em pó e misturados em álcool de cereais.

Já a cheirosa Verbena era célebre talismã, para “afastar o demônio e os espíritos malignos”. Culpeper (séc XVII),  recomendava-a para distúrbios do útero e feridas inflamadas. Encontramos já em 1526:  “ Para animar as pessoas em volta da mesa, molhe 4 folhas e 4 raizes de Verbena em vinho e espalhe pela casa”...

"Celui qui veut rendre joyeux ses convives, prendra 4 feuilles e 4 racines de Verveine, qu´il fera cuire dans du vin. Puis il aspergera de ce breuvage, aux 4 directions, l´endroit où l´on doit se réunir. 
En chassant les peurs, comme le soleil chasse les chevaux noirs de la nuit, la tristesse et la mélancolie du coeur et de l´âme feront place aux rires"

Encontramos também antigas receitas da medicina caseira presentes até os dias de hoje...: 

Óleo de pétalas de Calêndula: colocar as pétalas de Calêndula num bocal escuro e preencher de azeite. Deixar descansar por 40 dias.  Em uso externo é anti-inflamatório, anti-séptico e cicatrizante. Em uso interno é hipotensor, emenagogo (estimula a menstruação), sudorífero. Tomar uma colher de café em jejum.

Vinho de Camomila: Deixe descansar 6 semanas num bocal escuro 1 L de vinho branco com 10 cabeças de camomila fresca e a parte externa da casca de 2 laranjas. Filtre, acrescente mel e utilize como aperitivo ou digestivo.

Xarope de Tomilho: 6 colheres de chá de flores de Camomila, 4 de Tomilho, 2 de Sálvia. Junte as ervas à 1 L de água e proceda à uma infusão. Coe, volte ao fogo e reduza o líquido a ¾ de xícara. Adicione mel. É um excelente expectorante calmante dos pulmões.

Para concluir...Exemplos de Sinergias para o nosso dia-a-dia com os práticos Óleos Essenciais:

Blend para cãimbras e peso nas pernas: Misture 5 gotas de cada óleo:  Alecrim, Hisopo, Lavanda e Manjerona em 15ml de Óleo vegetal (Amêndoas por exemplo) e proceda à uma massagem ascendente suave nas pernas.

Blend para Insônia: Misture em um pouco de mel puro, 3 gotas de cada óleo: Sálvia, Vetiver, Melissa, Lavanda. Acrescente na água quente numa banheira. Permaneça por 20 minutos.

Blend para dor no tórax, dificuldade respiratória: em 10 ml de óleo vegetal acrescente 2 gotas dos seguintes óleos: Olíbano, Eucalipto e Alecrim e massageie suavemente a região.

Blend para digestão lenta e prisão de ventre: 8 gotas de cada óleo em 20 ml de óleo vegetal: Laranja, Funcho, Hortelã-pimenta. Massagens suaves no abdômen em sentido horário.

Blend para contraturas musculares: 8 gotas de cada óleo em 15 ml de óleo vegetal: Cipreste, Junípero, Eucalipto.

Blend para ansiedade e palpitações: 2 gotas de cada óleo em 5 ml de óleo vegetal: Manjerona, Grapefruit, Lavanda. Massagear o tórax, alto do abdômen e têmporas.

Centenas de fórmulas de infusos, óleos, incensos, tinturas, ungüentos, cataplasmas, xaropes, perfumes, banhos herbais foram descritos e utilizados, e ainda o são, em medicina popular, rituais mágicos ou religiosos, culinária, perfumaria, cosmética, em épocas e civilizações diferentes. A História do uso das ervas acompanha a história da humanidade. 

Atualmente, aromas, sabores ou remédios sintéticos, nos distanciam da natureza. E nos distanciam da nossa própria natureza, acostumando-nos a não sentir mais, quase nada.  Os aromas e  sabores falsos são padronizados. As dores são anuladas por analgésicos para não entrarmos em contato com o que diz nosso corpo, a expressão das emoções e a complexidade da sensibilidade humana são adormecidas com comprimidos baratos.

Despertarmos nossos sentidos e nos conectarmos novamente à nossa verdadeira  e profunda natureza e com a Mãe natureza é urgente...

Mexer com as ervas desperta os sentidos, desperta ancestralidade e  conhecimento antigo. A gente viaja no tempo e recorda como nossos antepassados cuidavam uns dos outros, cuidavam dos males internos e externos, sentiam prazer, protegiam-se, oravam, celebravam, seduziam, amavam... sempre conectados à natureza.
Dar continuidade a essa maravilhosa história de forma mais moderna, utilizando óleos essenciais das plantas, é um prazer imenso. Dizemos que o óleo essencial é a Alma da planta...a alma em uma gota. 
Mexer com os óleos aromáticos desperta emoção. Emoções diferentes segundo o aroma com o qual estamos mexendo. Como na Música, falamos de notas para os aromas também. 
Sentire – um mesmo verbo para tocar, ouvir,  perceber o gosto ou o aroma. Praticar a verdadeira  Aromaterapia não é só cuidar mas também despertar - os sentidos, o outro, a alma do outro, o coração.    
Basta entrar em sintonia e proceder à alquimia. Vale a pena.

Muito obrigada a todos pelo apoio e divulgação após mais um ano de pesquisas e de criação
Com carinho,
Stella Bittar